A luteína é o segundo carotenoide mais prevalente em humanos e é exclusivamente sintetizada por plantas. Fontes comuns dessa substância incluem ovos e vegetais folhosos verde-escuros, como couve e espinafre [1].

A luteína demonstra notáveis propriedades antioxidantes, desempenhando um papel crucial na proteção contra danos foto-induzidos pelos radicais livres, especialmente nos olhos. A presença de luteína, como um constituinte crucial da mácula, a torna um componente protetor significativo para os olhos contra danos induzidos pela exposição à luz, ao mesmo tempo que aprimora a acuidade visual [2].

A região da mácula nos olhos é uma área especializada da retina responsável pela visão central e detalhada, permitindo-nos ver objetos pequenos e realizar atividades que exigem acuidade visual, como ler, dirigir e reconhecer rostos [2].

A mácula contém uma alta concentração de células fotossensíveis chamadas de cones, responsáveis pela percepção de cores e detalhes finos. Além disso, a mácula é composta por várias camadas de células nervosas especializadas que processam e transmitem as informações visuais ao cérebro [2].

Quando a mácula é afetada por condições como a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) ou outras doenças maculares, a visão central pode ficar comprometida, afetando significativamente a qualidade de vida do indivíduo. Por isso, a saúde da mácula é crucial para uma visão nítida e funcional [2].

O estresse oxidativo é um dos fatores que podem levar ao desenvolvimento de DMRI. Nesse sentido, a luteína é reconhecidamente um composto que pode auxiliar na manutenção da saúde ocular por meio de suas ações antioxidantes. Estudos demonstram que a administração de suplementos contendo luteína tem se mostrado altamente eficaz na restauração dos níveis de antioxidantes oculares em condições como a maculopatia relacionada à idade e a degeneração macular relacionada à idade [3-5].

Outras pesquisas indicam que a luteína é capaz de reduzir os níveis de EROS e suprimir a apoptose (morte celular programada) em células epiteliais pigmentares da retina expostas ao peróxido de hidrogênio, um composto que aumenta a geração de EROS [6]. Em ensaios pré-clínicos (camundongos), observa-se que a suplementação com luteína reduz o aumento dos níveis locais de EROS induzidos pela luz na região ocular e aumentou a atividade da superóxido dismutase (SOD), uma importante enzima antioxidante (Figura 1 e 2) [7].

Figura 1: Níveis de EROS foram suprimidos pela luteína. O eixo Y do gráfico representa a intensidade fluorescente do DCFH-DA, um composto que se torna fluorescente quando em contato com EROS. Para realizar esse tipo de mensuração, os pesquisadores expuseram os camundongos a um período prolongado de luz diretamente nos olhos, um importante agente gerador de EROS. Após, estes animais receberam suplementação com luteína 24 horas após a exposição à luz. Assim, foi possível mensurar se a geração das EROS foram atenuadas no tecido ocular dos animais que receberam luteína. Segundo os resultados, a suplementação com luteína reduziu a geração de luteína no tecido ocular dos animais em comparação ao grupo controle (barras pretas). Adaptado de Kamoshita M. et al, 2016 [7].

Figura 2: A atividade da SOD induzida pela luteína. Neste gráfico, os pesquisadores mensuraram a atividade da SOD após a exposição à luz e suplementação com luteína. É possível observar que a atividade da enzima aumentou nos animais suplementados com luteína, demonstrando que, além de diminuir a geração de EROS (gráfico 1), a suplementação foi capaz de melhorar o sistema antioxidante endógeno dos roedores. Adaptado de Kamoshita M. et al, 2016 [7].

Em humanos, a ingestão de luteína foi associada a um aumento na densidade óptica do pigmento macular e na sensibilidade ao contraste visual em pacientes com degeneração macular atrófica relacionada à idade (DMRI), indicando uma melhora na função visual decorrente da suplementação com luteína [8].

O estudo foi conduzido durante 12 meses por meio da participação de 90 pacientes com DMRI atrófica. Os pacientes foram divididos em três grupos: grupo 1 que recebeu luteína 10mg; grupo 2 que recebeu uma fórmula de suplementação de luteína 10mg mais antioxidantes e vitaminas; e o grupo 3 que recebeu placebo de maltodextrina por 12 meses. Tanto a ingestão de luteína isolada quanto a sua associação a outros nutrientes foram capazes de melhorar a função visual [8]

Estes resultados corroboram com estudos posteriores, que associam a suplementação de luteína com uma menor incidência de perda de visão em comparação com o grupo controle [9]. Além disso, ensaios clínicos demonstram que uma suplementação de luteína ao longo de 12 semanas pode melhorar a função visual em indivíduos saudáveis expostos a longos períodos de luz emitida por computadores [10].

Proteção contra a retinopatia diabética

A retinopatia diabética é uma das principais causas de cegueira em pessoas com diabetes e afeta majoritariamente os pequenos vasos da retina, levando à disfunção dos mesmos. É uma doença que possui relação direta com o descontrole glicêmico e avanço do diabetes.

Pesquisas indicam que a luteína pode ser eficaz na proteção da retina contra o desenvolvimento de retinopatia diabética. Segundo em animais, o tratamento por via oral com luteína tem um papel importante na redução do estresse oxidativo e neuro-degeneração na retina associados ao descontrole glicêmico, impedindo assim a deficiência visual induzida pelo diabetes [11].

Ainda conforme a pesquisa, a luteína é capaz de reduzir algumas proteínas envolvidas em cascatas de ativação celular e de inflamação relacionadas com a degeneração macular na retinopatia diabética, como NF-κB, ERK, sinaptofisina e BDNF [11].

Em conjunto, as descobertas apresentadas sugerem que a suplementação de luteína pode ter impactos benéficos sobre o desempenho visual e proteção contra o estresse oxidativo, em diferentes situações clínicas.

Referências:
[1] Ahn YJ, Kim H. Lutein as a Modulator of Oxidative Stress-Mediated Inflammatory Diseases. Antioxidants (Basel). 2021 Sep 13;10(9):1448. doi: 10.3390/antiox10091448

[2] Ozawa Y, Sasaki M, Takahashi N, Kamoshita M, Miyake S, Tsubota K. Neuroprotective effects of lutein in the retina. Curr Pharm Des. 2012;18(1):51-6. doi: 10.2174/138161212798919101

[3] Mares-Perlman JA, Fisher AI, Klein R, Palta M, Block G, Millen AE, Wright JD. Lutein and zeaxanthin in the diet and serum and their relation to age-related maculopathy in the third national health and nutrition examination survey. Am J Epidemiol. 2001 Mar 1;153(5):424-32. doi: 10.1093/aje/153.5.424

[4] Beatty S, Chakravarthy U, Nolan JM, Muldrew KA, Woodside JV, Denny F, Stevenson MR. Secondary outcomes in a clinical trial of carotenoids with coantioxidants versus placebo in early age-related macular degeneration. Ophthalmology. 2013 Mar;120(3):600-606. doi: 10.1016/j.ophtha.2012.08.040

[5] Bone RA, Landrum JT, Guerra LH, Ruiz CA. Lutein and zeaxanthin dietary supplements raise macular pigment density and serum concentrations of these carotenoids in humans. J Nutr. 2003 Apr;133(4):992-8. doi: 10.1093/jn/133.4.992

[6] Liu H, Liu W, Zhou X, Long C, Kuang X, Hu J, Tang Y, Liu L, He J, Huang Z, Fan Y, Jin G, Zhang Q, Shen H. Protective effect of lutein on ARPE-19 cells upon H2O2-induced G2/M arrest. Mol Med Rep. 2017 Aug;16(2):2069-2074. doi: 10.3892/mmr.2017.6838

[7] Kamoshita M, Toda E, Osada H, Narimatsu T, Kobayashi S, Tsubota K, Ozawa Y. Lutein acts via multiple antioxidant pathways in the photo-stressed retina. Sci Rep. 2016 Jul 22;6:30226. doi: 10.1038/srep30226

[8] Richer S, Stiles W, Statkute L, Pulido J, Frankowski J, Rudy D, Pei K, Tsipursky M, Nyland J. Double-masked, placebo-controlled, randomized trial of lutein and antioxidant supplementation in the intervention of atrophic age-related macular degeneration: the Veterans LAST study (Lutein Antioxidant Supplementation Trial). Optometry. 2004 Apr;75(4):216-30. doi: 10.1016/s1529-1839(04)70049-4

[9] Bernstein PS, Li B, Vachali PP, Gorusupudi A, Shyam R, Henriksen BS, Nolan JM. Lutein, zeaxanthin, and meso-zeaxanthin: The basic and clinical science underlying carotenoid-based nutritional interventions against ocular disease. Prog Retin Eye Res. 2016 Jan;50:34-66. doi: 10.1016/j.preteyeres.2015.10.003

[10] Ma L, Lin XM, Zou ZY, Xu XR, Li Y, Xu R. A 12-week lutein supplementation improves visual function in Chinese people with long-term computer display light exposure. Br J Nutr. 2009 Jul;102(2):186-90. doi: 10.1017/S0007114508163000

[11] Sasaki M, Ozawa Y, Kurihara T, Kubota S, Yuki K, Noda K, Kobayashi S, Ishida S, Tsubota K. Neurodegenerative influence of oxidative stress in the retina of a murine model of diabetes. Diabetologia. 2010 May;53(5):971-9. doi: 10.1007/s00125-009-1655-6

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